Ouvir a música do mundo[1]
Marcus Minuzzi[2]
O medo de amar navega... Vem de um outro espaço/tempo. A música é o arco definitivo a partir do qual o medo de amar se expressa.
Nietzsche define que a música comunica “o sofrimento e a contradição” do “Um primordial” a maneira de uma “cópia fiel”.
A música o mundo orienta. A comunicação na internet orienta-se por a música presente no mito maior da democracia moderna.
A democracia ascendeu como forma de organização social mítica, ou seja, como sonho positivo, que repercute a memória do mundo.
Poucas pessoas suportam ouvir a memória do mundo. A luta do bem contra o mal é contada através desta memória, o que põe o mundo a sonhar com a vitória do bem.
Jung chama esse processo de inconsciente coletivo. O inconsciente coletivo se forma de “imagens primordiais” desta luta do bem contra o mal, os chamados “arquétipos”.
“O arquétipo é, na realidade, uma tendência instintiva, tão marcada como o impulso das aves para fazer seu ninho (...). (...) Chamamos instintos aos impulsos fisiológicos percebidos pelos sentidos. Mas, ao mesmo tempo, estes instintos podem também manifestar-se como fantasias e revelar, muitas vezes, a sua presença apenas através de imagens simbólicas. São a estas manifestações que chamo arquétipos. A sua origem não é conhecida; e eles se repetem em qualquer época e em qualquer lugar do mundo –mesmo onde não é possível explicar a sua transmissão por descendência direta ou por fecundações cruzadas resultantes da migração.” (JUNG, 1980, p.69)
Dionísio reinou no Ocidente como arquétipo do gozo. Nietzsche define Dionísio como o “criador”, o artista máximo. A realidade de Dionísio é a “potência estética.
A internet aproxima culturas. A rede que renova o mundo é, do ponto de vista dos instintos que geram arquétipos, uma “potência estética”.
Jung fala do mito do herói.
“O mito universal do herói (...) refere-se sempre a um homem ou um homem-deus poderoso e possante que vence o mal, apresentado na forma de dragões, serpentes, monstros, demônios, etc. e que sempre livra seu povo da destruição e da morte. A narração ou recitação ritual de cerimônias e de textos sagrados e o culto da figura do herói, compreendendo danças, música, hinos, orações e sacrifícios, prendem a audiência num clima de emoções numinosas (como se fora um encantamento mágico), exaltando o indivíduo até sua identificação com o herói.” (Jung, 1980, p. 79)
A forma do herói pode ser abstrata. O novo formato do fantasma do mal é o aquecimento global. Contra ele deve ressurgir o mito salvador.
A internet orienta o surgimento de um novo mito. O costume que se forma de pertencimento a redes sociais significa, neste contexto, o modo dionisíaco, ou seja, criativo, de disputar identidades em um espaço não vinculado ao território.
A terra suporta o mundo antigo da civilização técnico-científica com maior resistência, então, se o suporte de um novo mito acolhedoramente for leve como o ar.
O corpo virtual da rede ascende, portanto, à condição de uma espécie de nau que, comportando um número ilimitado de passageiros, permita à ilusão humana sonhar um novo tempo.
Referências bibliográficas
JUNG, Carl Gustav. O homem e seus símbolos. Rio de Janeiro : Nova Fronteira, 1980.
NIETZSCHE, Friedrich. O nascimento da tragédia – ou Grécia e pessimismo. Editora Escala : São Paulo, 2006.
[1] Texto usado como recurso metodológico na oficina “Mito e Comunicação”, realizada no dia 29/05/10, durante o XII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Centro Oeste – Intercom Centro Oeste 2010, Goiânia/GO.
[2] Jornalista, doutor em Ciências da Comunicação pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS/RS). Professor nos cursos de Comunicação Social da Faculdade Araguaia.
Como sempre né Minuzzi, você é fera
ResponderExcluirO medo de amar navega... não tem nada haver comigo não né.rsrsrs
ResponderExcluirTalvez goste de visitar e/ou comentar o blog do meu amigo... http://arcwoods.blogspot.com/
ResponderExcluirA algum tempo, quando vi a frase sobre o medo, lembrei de você em sala de aula falando do medo.
Realmente impressionante tudo isto! Perfeita transdisciplinaridade, um ideal que pouquissimos parecem conseguir.
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