sábado, 22 de janeiro de 2011

A permanência de Rodrigo Kaverna



Goiás inaugura a fantasia musical de um Brasil antiquíssimo. A lembrança deste reino úmido, como no porão da casa de Cora Coralina, acorda-nos para o mito do paraíso terrestre em sonhos visto pelo poeta português Fernando Pessoa (1988-1935) e transcrito em vários poemas do seu livro “Mensagem”.

No final do segundo semestre letivo de 2010, a minha turma da disciplina de “Cultura Brasileira”, do curso de Publicidade e Propaganda, da Faculdade Araguaia,  pôde ritualizar o mito do Brasil como paraíso terrestre ao travar contato com o trabalho do músico Rodrigo Kaverna, que se encontra a frente de projetos musicais como os grupos Passarinhos do Cerrado e Ragga Rural. 

O ouro musical que Kaverna pretende encontrar agora que começa a se tornar ouro possível, com a heróica visão do país como potência mundial. A alegria que Kaverna permite conhecer por meio dos ritmos que produz, seja cantando ou tocando (em nossa sala de aula, ele usou um pandeiro), provém do mesmo e terno lugar que o abolicionista brasileiro Joaquim Nabuco (1849-1910) desenha no seguinte trecho da sua clássica autobiografia, intitulada “Minha Formação”:

“A escravidão permanecerá por muito tempo como a característica nacional do Brasil. Ela espalhou por nossas vastas solidões uma grande suavidade; seu contato foi a primeira forma que recebeu a natureza virgem do país, e foi a que ele guardou; ela povoou-o como se fosse uma religião natural e viva, com os seus mitos, suas legendas, seus encantamentos.”

A permanência da escravidão liberta-nos da dominação do medo da morte. A riqueza cultural brasileira reside nesta alegria intensa usada como único recurso possível ao tempo passado na escravidão.


A QUESTÃO

A seguinte pergunta foi formulada aos alunos após a atividade com Rodrigo Kaverna:

"A energia que nosso ilustre convidado transmite faz parte das forças 'ocultas' que geram o país. Que tal essa energia?"

Publica-se abaixo trechos das respostas de três alunos da turma.


O porto seguro da arte

"A energia de nosso convidado é explícita, podendo ser notada no momento de sua chegada à sala de aula, ouvindo Rodrigo 'Kaverna', pude entender o quanto a vida pode nos dar rasteiras, o quanto o dia-a-dia pode nos maltratar, vi também que a vida de cada pessoa pode se transformar de uma hora pra outra, bastando apenas que o indivíduo queira estar e ser melhor, pensando mais em oferecer do que receber, fazendo da arte um porto seguro onde todos em volta possam se saborear com tamanha beleza. (...)  Mas o importante é que a arte que vi me deixou com sede de estudo, estudo de tudo e todas as artes, não quero ser apenas um coadjuvante, quero mostrar o que sei e o que ainda vou aprender por longos caminhos que ainda ei de passar." (Heber Alves da Silva) 

A união pela música 
"A palestra com Rodrigo Kaverna trouxe novamente a questão da música como forma de superação, e o gingado do povo brasileiro pra levar a vida de um jeito malandro.
 Como vimos durante o semestre, o povo brasileiro busca na música e na dança esquecer a opressão das classes 'dominantes', encontradas no topo da pirâmide, e das dificuldades que são comuns nas nossas vidas. (...) Pudemos observar a harmonia que a música do Karverna trouxe, e isso fez com que provássemos que a música nos une, já que dias atrás estivemos em 'guerra'.
Ou seja, a música na sua simplicidade conseguiu unir independente da raça, sexo, nacionalidade e outras diferenças.
A música sempre consegue não só uma sala com 30 alunos mais ou menos, mas consegue unir o país, e isso faz com que o Brasil seja reconhecido mundialmente pela música, e o carnaval. (Gabriela Ferreira do Nascimento) 


"Nunca pensei que me sentiria tão feliz em uma aula"

"Essa é a energia, a energia que faz o povo brasileiro transformar um problema sério em melodia, em música, o povo brasileiro é um povo trabalhador, mas mesmo assim se diverte muito, inclusive com seus problemas, mesmo com tantas limitações, ainda consegue cantar e ainda brincar com essa situação. A energia do Kaverna é ótima, faz você se sentir bem, sentir que você faz parte de um povo unido e com uma grande e linda cultura, um povo que é capaz de misturar vários ritmos e melodias e criar a sua própria música, um povo que criou muitos ritmos das cinzas do fracasso, do sofrimento, que é o caso da capoeira, que era considerada como luta e agora é um patrimônio cultural. (...) Nunca pensei que me sentiria tão feliz em uma aula, senti muito orgulho de ser Brasileira, não queria tivesse acabado tão rápido. A energia dele é tão positiva que até em um ambiente que nos últimos dias estava hostil fez todos dançarem e se divertirem. " (Lorraine Khetlyn da Silva Vieira)






Nenhum comentário:

Postar um comentário